A GAZETA DE ALGOL

"O morto do necrotério Guaron ressuscitou! Que medo!"

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LANDALEs

Autor: Olfer Bragdale

Com um rápido vôo rasante, o sworm desceu sedento por sangue, visando o alvo braço da garota, parte negligenciada por sua armadura. O instinto lhe ensinara a atacar pelas costas, e era o que tentava fazer. Entretanto, o instinto não lhe ensinara, entre uma mesma raça, a diferenciar as vítimas fáceis das perigosas. Em uma fração de segundo, Alis girou o corpo em um grande salto para o lado. Antes mesmo que seus pés voltassem a encontrar o chão, a jovem finalizou seu giro e o golpe disparou certeiro na direção do monstro. A criatura caiu ao solo, tendo grande parte de si decepada.

“Vamos continuar! Chegaremos a Baia Malay ao amanhecer!”

“Espere Alis, seria mais prudente fazermos uma parada por aqui. Não seria seguro viajar a noite. Aquela é uma região é muito perigosa.”

Era a voz de Odin. ‘Um grande guerreiro e um grande amigo’, pensou Alis. Mas não podia aceitar seu conselho. Não agora. “Não há nada lá que possa nos deter! Lassic nos aguarda, devemos continuar!”

Havia uma grande fúria na voz da garota. Odin quase recuou um passo ao ouvir aquela ordem. Olhou-a nos grandes e penetrantes olhos castanhos.

“Você sabe que não podemos nos arriscar assim. Há muita coisa em jogo.”

A resposta de Alis foi atirar a espada com força ao chão, fazendo-a cravar-se ao solo macio, erguendo a empunhadura aos céus como se fosse uma cruz. Sentou-se em uma grande pedra, e ficou em silêncio, olhando para o horizonte. O mar. O lindo mar.

“Ele tem razão, Alis…”

Desta vez os ouvidos da garota foram inundados, não pela voz grossa de Odin, mas por um som agudo e musical que criava em Alis um efeito reconfortante toda vez que a garota o ouvia. A voz de alguém a quem aprendera amar.

“Myau…?”

“Sim?”

“Cale a boca!” Disse Alis com uma voz calma e pausada.

Foi a vez de Myau sentir-se espantado. Alis sempre fora como uma irmã. Tinham uma amizade muito firme desde o dia em que se conheceram. Mas, de fato, havia algo errado. Seus sentidos aguçados sentiram um certo tremor naquelas palavras.

Alis sentiu uma mão carinhosa pousar em seu ombro direito. Nem sequer levantou os olhos, sabia muito bem quem estava ao seu lado. Sentia todo o ar encher-se de uma luz pacífica quando Noah se aproximava.

“De nada adiantará…” principiou o jovem esper, mas Alis se levantou de modo brusco, fazendo cair a mão que descansava em seu ombro.

“Alis… o que fará se chegarmos a Baia Malay sem forças para subirmos ao topo? Já estamos em marcha há quase quinze horas. Precisamos de algum repouso.”

“Podemos fazer isso! Sinto que podemos…”

Já havia quase um tom de tristeza e súplica na voz da garota. Odin, observando à cena, lembrou que, apesar da extrema força e grande habilidade que possuía, Alis não passava de uma criança de dezesseis anos, com um enorme peso sobre os ombros inexperientes.

Já viajavam a meses e, a cada passo que davam rumo ao encontro de Lassic, algo surgia para mostra-lhes uma importância cada vez maior em relação ao sucesso daquela missão. Mas foi apenas quando deixou de ver Alis, a guerreira, para ver Alis, a criança, que Odin compreendeu o porquê de sua pressa e imprudência: vingança. Conhecera Nero antes de Alis nascer. Era um grande homem, e Lassic era o grande culpado por sua morte. E com a morte do irmão Nero, Alis tornara-se uma garota muito solitária.

A garota baixou a cabeça, repousando-a sobre as mãos, escondendo o rosto. Não queria que a vissem chorar. Sabia que podia confiar-lhes a vida, mas aquela era uma dor que precisava sentir sozinha. Odin levantou-se e ensaiou um passo em sua direção, mas foi interrompido por uma voz suave e cheia de sabedoria.

“Deixe-a desabafar um pouco…” disse Noah.

“Mas…”

“Ela está bem… apenas ainda sente muita a perda do irmão. Alis é muito forte e inteligente. Não fará nada precipitado. Sabe que devemos tomar cuidados extras daqui em diante. Tenha paciência, pois é exatamente esta virtude que hoje falta a nossa pequena heroína.”

“De qualquer forma estou preocupado… vou ficar de olho nela.”


Deitada, ouvindo a suave respiração dos três companheiros, Alis olhava o céu estrelado, repassando na memória tudo o que havia passado nas últimas semanas. A morte do irmão. Lassic. Seus novos amigos… sua nova família.

Sentou-se e observou-os por uns instantes. Odin dormia profundamente.

“Bons sonhos, grandão…”, murmurou Alis, “obrigada por ficar de olho em mim. Mas preciso fazer isso sozinha.”

Tomou a espada e alguns mantimentos, levantou-se e caminhou sem destino por alguns minutos, passando por altas árvores, onde pássaros a observavam, cantando melodias tristes, como a dor que sentia agora no coração. Pretendia, sim, chegar a Baia Malay ao amanhecer. Derrotaria Lassic o mais rápido possível, mesmo que tivesse que fazê-lo sozinha.

Chegou, por fim, a um pequeno riacho. Ajoelhada, a beira da água, acariciou a superfície, deixando o frio penetrar-lhe o corpo através dos dedos. Tocando de leve as estrelas que apareciam refletidas nas águas. Alis brincava de juntar o reflexo das estrelas, os pequenos pontos luminosos, de modo a formar o rosto do irmão no espelho d’água. A água refletia o céu, e lá ele deveria estar. Entre as estrelas, olhando e protegendo sua irmã mais nova. Fechou os olhos, para melhor recordar seu rosto amado.

“Nero…”, pensou, “obrigado por velar por mim de onde você está. Estou feliz. Sim, feliz. Obrigado por tudo. Lassic pagará por tudo. Juro pela minha espada.”

“Sem dúvida, um juramento digno da herdeira daquele que foi o rei de Algo.”

Alis abriu os olhos. De onde viera aquela voz? Chegou-lhe aos ouvidos, como se vinda do céu e, ao mesmo tempo, vinda das águas. Primeiramente, por instinto, levantou-se volteando a cabeça de um lado para o outro, buscando a fonte da voz. Mas sabia que não encontraria nada. Jamais poderia ter-se confundido. Com certeza era a voz de Nero, mas Nero não estaria ali. Respirou fundo e ajoelhou-se, fechando os olhos mais uma vez. Mas, desta vez, deixou de lado a lógica e tentou ouvir com o coração.

“Alis Landale. Sua juventude e inexperiência tornam sua coragem e determinação ainda mais dignas de grande admiração. Sua avidez e imprudência, entretanto, são dignas de alguém que só poderia ser minha irmã.”

Alis sentia as lágrimas escorrerem por sua face. Lavavam seu espírito e traziam paz ao seu inquieto coração. Era como se pudesse abraçar Nero. Uma despedida. E, desta vez, sem sangue, sem dor, apenas saudade.

“Tenha calma, menina. Você é capaz. De você o próprio universo espera grandes feitos. Tenha calma. O futuro de Algo é o seu maior objetivo. Para ir mais longe, entretanto, você precisa do apoio daqueles que te amam. Lassic pagará por tudo. E esta será sua vingança. Confie em seus amigos. Eu confio em você.”

Silêncio. Por vários minutos Alis permaneceu ajoelhada, apenas sentindo o calor de seu coração irradiando por todas as partes de seu corpo, dando-lhe força, coragem e a certeza de que agora estaria no caminho certo.

“Nero, morreria antes de desapontá-lo. Farei tudo para salvar nosso mundo.”

Olhou mais uma vez para o reflexo das estrelas. E deu um último adeus ao sorriso de Nero, que agora brilhava nas águas. Ele, agora, fazia parte do planeta. Alis salvaria o planeta.

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