A GAZETA DE ALGOL

"O morto do necrotério Guaron ressuscitou! Que medo!"

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fanworks:fanfictions:fic-018
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 +====== LANDALEs ======
  
 +**Autor:** [[olferbragdale@gmail.com|Olfer Bragdale]]
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 +Com um rápido vôo rasante, o sworm desceu sedento por sangue, visando o alvo braço da garota, parte negligenciada por sua armadura. O instinto lhe ensinara a atacar pelas costas, e era o que tentava fazer. Entretanto, o instinto não lhe ensinara, entre uma mesma raça, a diferenciar as vítimas fáceis das perigosas. Em uma fração de segundo, Alis girou o corpo em um grande salto para o lado. Antes mesmo que seus pés voltassem a encontrar o chão, a jovem finalizou seu giro e o golpe disparou certeiro na direção do monstro. A criatura caiu ao solo, tendo grande parte de si decepada.
 +
 +“Vamos continuar! Chegaremos a Baia Malay ao amanhecer!”
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 +“Espere Alis, seria mais prudente fazermos uma parada por aqui. Não seria seguro viajar a noite. Aquela é uma região é muito perigosa.”
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 +Era a voz de Odin. ‘Um grande guerreiro e um grande amigo’, pensou Alis. Mas não podia aceitar seu conselho. Não agora. “Não há nada lá que possa nos deter! Lassic nos aguarda, devemos continuar!”
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 +Havia uma grande fúria na voz da garota. Odin quase recuou um passo ao ouvir aquela ordem. Olhou-a nos grandes e penetrantes olhos castanhos.
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 +“Você sabe que não podemos nos arriscar assim. Há muita coisa em jogo.”
 +
 +A resposta de Alis foi atirar a espada com força ao chão, fazendo-a cravar-se ao solo macio, erguendo a empunhadura aos céus como se fosse uma cruz. Sentou-se em uma grande pedra, e ficou em silêncio, olhando para o horizonte. O mar. O lindo mar.
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 +“Ele tem razão, Alis...”
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 +Desta vez os ouvidos da garota foram inundados, não pela voz grossa de Odin, mas por um som agudo e musical que criava em Alis um efeito reconfortante toda vez que a garota o ouvia. A voz de alguém a quem aprendera amar.
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 +“Myau...?
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 +“Sim?”
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 +“Cale a boca!” Disse Alis com uma voz calma e pausada.
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 +Foi a vez de Myau sentir-se espantado. Alis sempre fora como uma irmã. Tinham uma amizade muito firme desde o dia em que se conheceram. Mas, de fato, havia algo errado. Seus sentidos aguçados sentiram um certo tremor naquelas palavras.
 +
 +Alis sentiu uma mão carinhosa pousar em seu ombro direito. Nem sequer levantou os olhos, sabia muito bem quem estava ao seu lado. Sentia todo o ar encher-se de uma luz pacífica quando Noah se aproximava.
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 +“De nada adiantará...” principiou o jovem esper, mas Alis se levantou de modo brusco, fazendo cair a mão que descansava em seu ombro.
 +
 +“Alis... o que fará se chegarmos a Baia Malay sem forças para subirmos ao topo? Já estamos em marcha há quase quinze horas. Precisamos de algum repouso.”
 +
 +“Podemos fazer isso! Sinto que podemos...”
 +
 +Já havia quase um tom de tristeza e súplica na voz da garota. Odin, observando à cena, lembrou que, apesar da extrema força e grande habilidade que possuía, Alis não passava de uma criança de dezesseis anos, com um enorme peso sobre os ombros inexperientes.
 +
 +Já viajavam a meses e, a cada passo que davam rumo ao encontro de Lassic, algo surgia para mostra-lhes uma importância cada vez maior em relação ao sucesso daquela missão. Mas foi apenas quando deixou de ver Alis, a guerreira, para ver Alis, a criança, que Odin compreendeu o porquê de sua pressa e imprudência: vingança. Conhecera Nero antes de Alis nascer. Era um grande homem, e Lassic era o grande culpado por sua morte. E com a morte do irmão Nero, Alis tornara-se uma garota muito solitária.
 +
 +A garota baixou a cabeça, repousando-a sobre as mãos, escondendo o rosto. Não queria que a vissem chorar. Sabia que podia confiar-lhes a vida, mas aquela era uma dor que precisava sentir sozinha. Odin levantou-se e ensaiou um passo em sua direção, mas foi interrompido por uma voz suave e cheia de sabedoria.
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 +“Deixe-a desabafar um pouco...” disse Noah.
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 +“Mas...”
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 +“Ela está bem... apenas ainda sente muita a perda do irmão. Alis é muito forte e inteligente. Não fará nada precipitado. Sabe que devemos tomar cuidados extras daqui em diante. Tenha paciência, pois é exatamente esta virtude que hoje falta a nossa pequena heroína.”
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 +“De qualquer forma estou preocupado... vou ficar de olho nela.”
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 +----
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 +Deitada, ouvindo a suave respiração dos três companheiros, Alis olhava o céu estrelado, repassando na memória tudo o que havia passado nas últimas semanas. A morte do irmão. Lassic. Seus novos amigos... sua nova família.
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 +Sentou-se e observou-os por uns instantes. Odin dormia profundamente.
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 +“Bons sonhos, grandão...”, murmurou Alis, “obrigada por ficar de olho em mim. Mas preciso fazer isso sozinha.”
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 +Tomou a espada e alguns mantimentos, levantou-se e caminhou sem destino por alguns minutos, passando por altas árvores, onde pássaros a observavam, cantando melodias tristes, como a dor que sentia agora no coração. Pretendia, sim, chegar a Baia Malay ao amanhecer. Derrotaria Lassic o mais rápido possível, mesmo que tivesse que fazê-lo sozinha.
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 +Chegou, por fim, a um pequeno riacho. Ajoelhada, a beira da água, acariciou a superfície, deixando o frio penetrar-lhe o corpo através dos dedos. Tocando de leve as estrelas que apareciam refletidas nas águas. Alis brincava de juntar o reflexo das estrelas, os pequenos pontos luminosos, de modo a formar o rosto do irmão no espelho d’água. A água refletia o céu, e lá ele deveria estar. Entre as estrelas, olhando e protegendo sua irmã mais nova. Fechou os olhos, para melhor recordar seu rosto amado.
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 +“Nero...”, pensou, “obrigado por velar por mim de onde você está. Estou feliz. Sim, feliz. Obrigado por tudo. Lassic pagará por tudo. Juro pela minha espada.”
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 +“Sem dúvida, um juramento digno da herdeira daquele que foi o rei de Algo.”
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 +Alis abriu os olhos. De onde viera aquela voz? Chegou-lhe aos ouvidos, como se vinda do céu e, ao mesmo tempo, vinda das águas. Primeiramente, por instinto, levantou-se volteando a cabeça de um lado para o outro, buscando a fonte da voz. Mas sabia que não encontraria nada. Jamais poderia ter-se confundido. Com certeza era a voz de Nero, mas Nero não estaria ali. Respirou fundo e ajoelhou-se, fechando os olhos mais uma vez. Mas, desta vez, deixou de lado a lógica e tentou ouvir com o coração.
 +
 +“Alis Landale. Sua juventude e inexperiência tornam sua coragem e determinação ainda mais dignas de grande admiração. Sua avidez e imprudência, entretanto, são dignas de alguém que só poderia ser minha irmã.”
 +
 +Alis sentia as lágrimas escorrerem por sua face. Lavavam seu espírito e traziam paz ao seu inquieto coração. Era como se pudesse abraçar Nero. Uma despedida. E, desta vez, sem sangue, sem dor, apenas saudade.
 +
 +“Tenha calma, menina. Você é capaz. De você o próprio universo espera grandes feitos. Tenha calma. O futuro de Algo é o seu maior objetivo. Para ir mais longe, entretanto, você precisa do apoio daqueles que te amam. Lassic pagará por tudo. E esta será sua vingança. Confie em seus amigos. Eu confio em você.”
 +
 +Silêncio. Por vários minutos Alis permaneceu ajoelhada, apenas sentindo o calor de seu coração irradiando por todas as partes de seu corpo, dando-lhe força, coragem e a certeza de que agora estaria no caminho certo.
 +
 +“Nero, morreria antes de desapontá-lo. Farei tudo para salvar nosso mundo.”
 +
 +Olhou mais uma vez para o reflexo das estrelas. E deu um último adeus ao sorriso de Nero, que agora brilhava nas águas. Ele, agora, fazia parte do planeta. Alis salvaria o planeta. 
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