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— | fanworks:fanfictions:razao_para_continuar [2011/12/22 04:27] (atual) – criada orakio | ||
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+ | ====== Uma razão para continuar ====== | ||
+ | **Autor:** [[sbsakin@yahoo.com.br|Fernando Raffani]] | ||
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+ | A guardiã loira caminhava pelo corredor escuro que terminava na lavanderia. Aquele aposento era o dormitório que ela tinha escolhido como seu na casa do ex-estranho, | ||
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+ | Anna não poderia negar que ela também foi profundamente afetada pelo ocorrido, mas como a vida dela sempre foi uma seqüência interminável de tragédias, ela adquiriu uma resiliência que a permitia se recuperar do choque muito mais rápido que os demais. Não havia mais nada que ela pudesse fazer para mudar o que tinha acontecido. Ficar se lamentando e se culpando não iria trazer os mortos de volta. Pelo contrário, todo o tempo gasto apenas lamentando, e a paralisia causada pelo sentimento de impotência diante dos acontecimentos poderia ser fatal, custando ao sistema solar outro planeta e milhões de almas mais. No entanto, Anna sabia também que não havia nada que ela pudesse fazer para evitar mais destruição sem a ajuda dos seus companheiros, | ||
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+ | A jovem ouviu um soluçar abafado vindo de um dos quartos da casa. A porta estava parcialmente aberta, mas Anna nem precisava espiar através da fresta formada para descobrir quem era que estava chorando. Tinha de ser Rolf. De imediato, a primeira reação foi evitar o amigo, pois ela tinha consciência que sua falta de jeito para lidar com os outros provavelmente faria mais mal do que bem. Todavia, a forma com que ele chorava soou nos ouvidos da guardiã como “Ajude-me, | ||
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+ | Rolf estava sentado em sua cama, com o rosto apoiado em suas mãos, soluçando, e nem percebeu a entrada de sua amiga. Ela sentou-se ao seu lado cuidadosamente, | ||
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+ | - Oh, Anna, é tudo tão horrível! Por que isso teve de acontecer? – Rolf sussurrou, tentando suprimir seus soluços. | ||
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+ | Anna, por sua vez, respondeu com um ar maternal em sua voz, enquanto acariciava as faces do amigo. - Infelizmente, | ||
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+ | Rolf estava inconformado, | ||
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+ | - Eu sei, mas... | ||
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+ | A jovem loira tentou argumentar, mas foi interrompida bruscamente por seu amigo, que se livrou do abraço dela forçosamente, | ||
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+ | - Eles morreram por nossa causa, Anna! – Apesar de seu tom agressivo, Anna sabia muito bem que ele estava sentindo amargura e frustração, | ||
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+ | Por isso, ela respondeu à acusação de forma seca: - Você bem sabe que não foi nossa culpa. | ||
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+ | - Nos estávamos naquele maldito satélite e nós falhamos miseravelmente ao tentar evitar que ele colidisse com Palma. Claro que a culpa é toda nossa! – Rolf tinha seus punhos cerrados, mas sua raiva era direcionada a si mesmo. Raiva por não ter poderes para evitar o acontecimento mais trágico de toda a história do sistema solar. Ele abaixou sua cabeça, fitando o chão. Com seu cabelo totalmente bagunçado e a respiração ofegante, emendou, menos agressivamente: | ||
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+ | - Não, Rolf, nós não os matamos. – Anna respondeu de forma ríspida. – Nós não colocamos o satélite em rota de colisão com Palma. Nós fomos vítimas dos planos malignos de alguém. Nós fomos assassinados juntamente com todos os Palmanos. Se Tyler não tivesse nos ajudado, nós seríamos poeira de estrelas agora. | ||
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+ | - E é isso que nós merecíamos! – Rolf resmungou tristemente. Ele estava prestes a irromper em lágrimas novamente. | ||
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+ | - Não, nós não merecíamos isso. Nós estávamos tentando salvar Motavia da inundação terrível, que estava prestes a engolir todos nós. Você não pode nos culpar pelo que aconteceu. | ||
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+ | Anna estava segura de que tinha rebatido os argumentos infundados do amigo, mas, ao olhar para ele, percebeu que ele sequer haverá prestado atenção em suas palavras. | ||
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+ | - Anna, você não entende. Você nunca conseguirá entender... – Ele perdeu a batalha contra o impulso irresistível de irromper em um choro triste, e ao mesmo momento, procurou consolo novamente nos braços de sua amiga. | ||
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+ | A guardiã loira enfrentava um dilema enquanto enlaçava o amigo carinhosamente. Ela queria mostrar alguma empatia em relação aos sentimentos do amigo, mas ao mesmo tempo era necessário não ser muito suave, para evitar que ele permanecesse convenientemente no estado letárgico | ||
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+ | - Eu entendo Rolf. Eu passei por tudo isso, junto com você. Certamente, foi terrível, e eu me senti como se estivesse morrendo também, mas nós precisamos continuar... | ||
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+ | - Continuar com o quê? Não sobrou mais nada… | ||
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+ | O lamento entristecido do amigo derreteu o coração de Anna. Havia algo naquele homem quando ele ficava triste que era poderoso o suficiente para derreter de uma vez só todas as camadas de gelo que cobriam o coração da guardiã, adquiridos durante anos de sofrimento, em eventos trágicos que ela desejava esquecer. Rolf inspirava uma admiração incomum, algo que fazia ela acreditar incondicionalmente nele. | ||
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+ | - Não diga isso, Rolf. O comandante O’Conner nos confiou outra missão. E não há ninguém melhor do que você para salvar Algol... | ||
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+ | Rolf interrompeu a amiga novamente. – Não, Anna, eu sou a pior pessoa para essa tarefa. O comandante já deveria ter percebido isso e escolhido qualquer outra pessoa para continuar a nossa missão. Acho que eu irei amanhã até o escritório na torre central e pedir dispensa da minha posição. | ||
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+ | Anna suspirou de tristeza ao ouvir as palavras de seu amigo, pois sabia que a pior coisa que pode acontecer a alguém é perder as esperanças e desistir. – Por favor, Rolf, seja razoável. – novamente ela se silenciou, para pensar melhor na situação, pois ela estava profundamente afetada pelo pessimismo de Rolf. Talvez a qualidade que ela mais admirava no amigo era seu senso de responsabilidade inabalável, | ||
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+ | Após esse apelo, ambos ficaram em silêncio. Rolf tinha sentimentos conflitantes sobre a situação em que se encontrava. Ainda que seu abatimento fosse um sentimento genuíno, ele sentia um impulso que o levava a exagerar seu sofrimento, pois aprendeu ser essa a melhor forma de poder desfrutar de um pouco de compaixão e carinho da guardiã loira. Características essas que desapareciam no ar tão logo ela voltasse ao seu humor e disposição normais. Anna ainda era um grande mistério para ele. Rolf havia ficado extremamente preocupado com o comportamento frio e recluso da moça tão logo ela se juntou ao grupo. De fato, o comportamento dela era tão suspeito que ele relutou em aceitar a ajuda de uma mulher que abominava tanto o próprio passado que recusava até a dizer para os outros a própria idade. Todavia, durante os últimos meses em sua companhia, Rolf aprendeu que Anna era confiável e determinada a ajudar o grupo, sem hesitação. Quaisquer que fossem os mistérios que jaziam em seu passado, eles não afetavam a competência dela como lutadora e trabalhadora em equipe. Além disso, Nei havia descoberto um lado doce e gentil da guardiã, e nada agradava mais o jovem agente que uma pessoa demonstrar gentileza com sua falecida irmã. Principalmente quando a doçura da guardiã era tão encantadora e seu abraço tão prazeroso. Tão prazeroso que Rolf se sentiu inclinado a deixar o profissionalismo de lado pela primeira vez, e se envolver romanticamente com a parceira de grupo. A única coisa que ainda o impedia de se atirar de cabeça nessa tentação era a personalidade deveras irregular da moça. | ||
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+ | Mas não era só o abraço de Anna que o fazia permanecer em depressão. A destruição de Palma e a subseqüente morte de todos os seus habitantes foi um choque maior ainda que a morte trágica de sua própria irmã. | ||
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+ | - Não tem jeito, Anna. Eu fui amaldiçoado com o toque anti-Midas... | ||
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+ | - Pare com isso, Rolf! Você tem feito coisas maravilhosas o tempo todo. – A jovem loira balanceava palavras mais duras com carícias nos cabelos do amigo. | ||
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+ | - Eu sou amaldiçoado! Toda vez que eu tento consertar algo, as coisas acabam piores do que eram antes. Quando tentamos salvar Teim dos seqüestradores, | ||
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+ | - Você está errado, Rolf. Se não insistirmos, | ||
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+ | - Mas, Anna, pense bem, você não vê que eu sou impotente para mudar o que quer que seja? Olhe para o meu passado, foram apenas derrotas e mais derrotas. Eu nunca conseguirei salvar Algol. | ||
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+ | Apesar das palavras serem basicamente as mesmas, Anna notou uma súbita mudança na forma com que Rolf se expressava, e percebeu que tudo o que ele precisava era de uma razão, um motivo, uma esperança para se agarrar e ter forças para continuar. Qualquer coisa que o convencesse de que seu sacrifício valeria à pena. E a guardiã loira sabia exatamente a resposta que faltava para o amigo. | ||
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+ | - Você precisa fazer as pazes com o seu passado, Rolf. | ||
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+ | - O que? | ||
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+ | - Você precisa perdoar o seu passado para poder seguir em frente, Rolf. | ||
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+ | Anna soltou Rolf de seus braços e o ajudou a sentar-se eretamente, pois ela queria ter uma conversa olho-no-olho com o amigo. | ||
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+ | - Mas é uma boa indicação que não dará certo, não é? Você confiaria seu dinheiro para um ladrão guardar? – Rolf balançou a cabeça negativamente. – Não, Anna, não é assim fácil... | ||
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+ | - Espera, lá, Rolf, tudo o que você fez até hoje foi com a melhor das intenções. – Anna segurou as mãos de seu amigo e olhou intensamente em seus olhos. – Olhe, Rolf, eu tenho um passado muito mais vergonhoso que o seu. Eu… - A garota hesitou por um momento, pois falar de seu próprio passado era sempre a coisa mais difícil – Eu passei por coisas terríveis, inimagináveis, | ||
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+ | - Claro que concordo, Anna. Você tem sido uma excelente combatente e uma amiga melhor ainda. – Rolf respondeu imediatamente, | ||
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+ | - É exatamente nisso que você está errado, meu querido. Você não matou ninguém. Você apenas deu o seu melhor para proteger a vida dos habitantes de Motavia. Eu te admiro por ser tão determinado em ajudar toda a humanidade, deixando de lado os seus próprios interesses. – Após uma breve pausa, Anna acrescentou – Se esse mundo fosse feito apenas de Rolfs... | ||
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+ | Rolf se sentiu tocado pela cena, ficou gravada profundamente na sua memória. Os olhos azuis de Anna brilhavam como duas safiras na penumbra do quarto. Por um momento, Rolf acreditou ter visto Anna sorrindo para ele, com os olhos umedecidos. Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, e a sensação era de que o tempo havia parado. No entanto, os cérebros de cada um dos dois estavam trabalhando a todo vapor, tentando processar todas as impressões geradas pelo encontro fortuito, relacionando essas impressões com experiências passadas, e misturando tudo com suas emoções. Para Anna, esse era um processo mais fácil, uma vez que todas as dificuldades que fizeram parte de sua vida acabaram por criar um filtro para emoções em seu cérebro. Anna não era uma psicopata que ignorava as emoções, mas ela possuía uma capacidade enorme de distinguir as partes emocionais e racionais de cada impressão recebida, e isso a tornava capaz de permanecer fria e controlada sempre que a situação exigia autocontrole. | ||
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+ | - Eu acho que você tem razão, Anna. Obrigado. Eu me sinto melhor agora. | ||
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+ | - Excelente! – Anna se levantou e acariciou gentilmente o rosto do amigo, respondendo com uma voz doce e carregada de afeição. – Estou tão feliz por você se sentir melhor. – e acrescentou, | ||
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+ | - Pois é, Anna, está certo. Boa noite. E obrigado mais uma vez. | ||
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+ | - Boa noite, Rolf. | ||
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+ | A guardiã loira virou-se e se preparou para partir. Ela se sentia aliviada, pois tinha conseguido ajudar o amigo. Ela não tinha dúvidas que necessitava contato humano, apesar de não ser muito social. Todas as vezes que ela exercia sua compaixão e compartilhava seu amor, conseguia suprimir seus impulsos cruéis e violentos. E, apesar de levar uma vida solitária, os melhores momentos com certeza tinham sido aqueles nos quais ela pode desfrutar da companhia das pessoas que ela amava. Portanto, poder ajudar a pessoa da qual ela era mais próxima era um sentimento maravilhoso. Principalmente porque ajudar o amigo querido era uma forma de se ajudar também. | ||
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+ | Ao cruzar o vão da porta, ela foi interrompida por um chamado do amigo. – Anna... | ||
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+ | Seu coração disparou. Anna sentiu uma ansiedade súbita. Ela temia o que se seguiria após aquele chamado, pois ela tinha quase certeza que seria algo emocional e pessoal. E esse era o tipo de situação que a deixava mais desconfortável. Rolf logo completou: | ||
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+ | - Se o mundo todo fosse feito de Annas, ele seria certamente um lugar maravilhoso para se viver. | ||
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+ | Tendo acertado o tipo de comentário que seu amigo faria, Anna lentamente virou-se e balançou a cabeça negativamente. – Não, Rolf, não seria. Você não tem nem idéia do que acabou de dizer. – E, após um profundo suspiro de tristeza, acrescentou – Um dia eu serei capaz de te contar todo o meu passado. E eu tenho certeza que você vai mudar completamente de opinião. | ||
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+ | E nisso, Anna deixou o quarto de Rolf antes que a conversa se alongasse ainda mais. No entanto, ela tinha sido profundamente tocada pelo comentário do amigo. Aparentemente os sentimentos do amigo estavam crescendo em uma direção inesperada. E era exatamente isso que ela mais temia quando se dispôs a ser carinhosa e compreensiva com ele. Não que ela achasse ruim a idéia de Rolf amá-la, pois de todos os homens que ela conheceu na vida, ele era provavelmente o melhor. A idéia de evoluir a relação deles até o ápice do amor entre duas pessoas não era ruim. De fato, serviria até como forma de realizar os sonhos românticos de garotinha inocente, que, apesar de terem sido deixados de lado após a sucessão de tragédias que povoou sua adolescência, | ||
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+ | No entanto, Anna temia não ser boa o suficiente para Rolf. Apesar de ter feito as pazes com o próprio passado, Anna ainda não se sentia segura o suficiente para afirmar que estava completamente mudada. Só o fato de seu humor estar constantemente alternando-se entre doçura e compaixão, e frieza e indiferença, | ||
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+ | Rolf, por sua vez, tinha muito a refletir antes de ficar calmo o suficiente para cair no sono. A moça misteriosa conseguiu ajudá-lo a clarear suas idéias em relação ao trágico ocorrido da destruição de Palma, apresentando um ponto de vista diferente, que lhe dava forças para continuar. Apesar de ele ainda estar em luto pela morte dos milhões de inocentes, incluindo sua querida irmã, agora ele conseguia ver tudo o que aconteceu nos últimos meses sob uma luz diferente. O passado nunca deixaria de ser parte dele. Mas, ao invés de ser tão massacrante a ponto de impedir Rolf de agir livremente, levando-o a repetir os mesmos erros indefinidamente, | ||
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+ | E também havia Anna. O quanto mais ele a conhecia, mais ele a amava. Apesar de ele não querer confessar, ele tinha certeza que quaisquer que fossem os mistérios em torno do passado dela, não faria a menor diferença para o que ele sentia por ela. Assim como ele estava disposto a perdoar seu próprio passado, ele também estava disposto a perdoar o passado de Anna, e construir um amor sincero e profundo do ponto em que eles se encontravam atualmente, crescendo juntos, rumo à eternidade. Se assim ela quisesse, claro. | ||
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+ | Ele também tinha certeza que Nei estava sorrindo para ele naquele momento. E isso bastava para encher novamente seu coração de esperanças, |